Completados 6 meses de mandato, o Presidente Lula fez sua primeira transmissão ao vivo em seu canal no Youtube nesta terça-feira (13/06). O quadro 'Conversa com o Presidente' será apresentado pelo jornalista Marcos Uchôa (EBC - Empresa Brasil de Comunicação), num formato de bate papo sobre diversos assuntos.

Durante a live, o Presidente Lula comentou que sua gestão enfrenta desafios: ''Acredito que estamos trabalhando mais do que em qualquer outro momento da nossa história, porque nós encontramos um país destruído, e teremos que reconstruir''.

Iniciativas apresentadas:

"Novo PAC"

O Presidente destacou a necessidade de 'fazer muito mais do que os governos anteriores' e anunciou que um grande pacote de políticas públicas e obras de infraestrutura em várias áreas será lançado em 2 de julho. A iniciativa tem sido chamada popularmente de "Novo PAC" e seria uma nova versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), criado nos governos anteriores de Lula e seguido pela ex-presidente Dilma Rousseff, também do PT. O programa é prometido pelo governo desde o início do mandato e tinha previsão de lançamento para o mês de abril, mas somente após aproximadamente dois meses da data prevista deverá ser iniciado. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que o programa funcionará por meio de Parcerias Público-Privadas (PPPs) e concessões.

"Minha Casa, Minha Vida"

Apesar de o Presidente não ter dado detalhes sobre o programa durante a live, o "Novo PAC" deverá contemplar projetos conhecidos de infraestrutura urbana, como o programa "Minha Casa, Minha Vida", que oferece subsídios para a aquisição da moradia própria para pessoas de baixa renda. Criado em 2009, o "Minha Casa, Minha Vida" entregou mais de 4 milhões de moradias, mas perdeu força ao longo dos anos, chegando a ser extinto em 2020, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Nós precisamos fazer não apenas o 'Minha Casa, Minha Vida' para as pessoas mais pobres. Precisamos fazer o 'Minha Casa, Minha Vida' para a classe média."

O presidente destacou que as pessoas com renda superior às aceitas pelo programa também têm vontade de ter uma casa melhor. Lula completou sua fala mostrando estar ciente de que o governo precisará ter “capacidade de fazer uma quantidade enorme de casas”, e pediu 'um pouquinho de paciência' ao povo brasileiro.

Confira a MEDIDA PROVISÓRIA Nº 1.162, DE 14 DE FEVEREIRO DE 2023, que dispõe sobre o Programa "Minha Casa, Minha Vida".

"Desenrola Brasil"

O programa "Desenrola Brasil” é mais uma das apostas do novo governo e pretende possibilitar a renegociação de dívidas, devendo beneficiar cerca de 70 milhões de pessoas endividadas. O objetivo é reduzir a inadimplência e incentivar o consumo.

"Nós estamos preocupados em encontrar uma saída para 72 milhões de brasileiros e brasileiras que devem, e estão com o nome sujo no Serasa. [...] Nós prometemos durante a campanha e nós vamos garantir isso para o povo: encontrar um jeito de livrar o nome da pessoa para ela poder voltar à normalidade do consumo."

Lula ainda comentou que a medida poderá impactar os setores da indústria automobilística, aumentando a procura para a compra de carros que tiveram preços reduzidos pela MPV 1175/ 2023 (Leia nosso post 'Carros mais baratos no segundo semestre de 2023?') e agricultura, facilitando a compra de tratores e implementos agrícolas para os pequenos e médios produtores, aumentando a produção de alimentos.

Confira a MEDIDA PROVISÓRIA Nº 1.176, DE 5 DE JUNHO DE 2023, que institui o ''Desenrola Brasil'', Programa Emergencial de Renegociação de Dívidas de Pessoas Físicas Inadimplentes.

Visão Otimista

Durante toda a conversa, Lula se mostrou otimista para os grandes desafios que sua gestão está encontrando na tentativa de "reconstruir o Brasil" e aplicar medidas em todos os segmentos da sociedade "para que as pessoas se sintam contempladas pelo governo".

Além da retomada de políticas públicas internas, o Presidente também destacou a importância do relacionamento com líderes internacionais para fortalecer a imagem e a economia brasileira no exterior. Lula comentou seu encontro com a presidente da Comissão da União Europeia, Ursula von der Leyen, em Brasília. As discussões para firmar um acordo entre Mercosul e União Europeia iniciaram em 1999 e até hoje apresentam diversos impasses no que compreendem as compras governamentais (que permitiria o mesmo tratamento dado a empresas brasileiras e europeias em licitações públicas federais), a aplicação de sanções, e questões ambientais. Os líderes se comprometeram a concluir o acordo o quanto antes, sendo no mais tardar, até o fim do ano.

Lula planeja se encontrar com o Papa Francisco e o presidente da Itália, Sergio Mattarella, além de outros líderes durante sua viagem à Europa programada para o final do mês.

O Presidente também comentou sobre o seu encontro com a diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Kristalina Georgieva, em Hiroshima, no Japão. O encontro ocorreu em 20/05, na reunião do G7 (o chamado Grupo dos Sete, uma organização de líderes de algumas das maiores economias do mundo, onde o Brasil participa na condição de convidado do evento).

Em encontro com a diretora-gerente do FMI, Lula diz: "A previsão do FMI sobre o crescimento do Brasil está equivocada. [...] No final do ano que vem, na Reunião do G20, eu vou lhe provar que a economia brasileira cresceu muito mais".

A previsão feita pelo FMI é de que o PIB (Produto Interno Bruto) cresceria apenas 0,9% em 2023, enquanto que o Presidente aposta no crescimento acima de 2%.

Pontos Sensíveis

Agronegócio

O jornalista Marcos Uchôa perguntou ao Presidente sobre a relação com o setor do agronegócio, um dos principais pilares da economia brasileira. Lula fez questão de destacar em sua resposta ao jornalista e à todos as pessoas que os assistiam ao vivo:

"Eu nunca tive problema com o agronegócio. Eu governei oito anos este país, eles sabem tudo o que nós fizemos por eles. Eles sabem que nós temos muita responsabilidade com o salto de qualidade que teve a agricultura brasileira por causa do financiamento que nós fazíamos”

O Presidente complementou sua fala afirmando que durante seus governos anteriores, as grandes máquinas colheitadeiras "eram financiadas com 2% de juros ao ano" e que hoje, os juros estariam por volta de 14 a 18%, porém esses dados não são condizentes com as pesquisas que comparam os últimos governos petistas com a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

 

Diferente do que foi falado na live e em outros discursos do Presidente Lula, a menor taxa de juros registrada foi de 3% ao ano, em 2009, durante seu segundo mandato. Os índices permaneceram acima de 5% ao ano em 7 de seus 8 anos no poder. A taxa atual de juros corresponde à 12,5% ao ano.

Lula comentou sobre a contribuição do “Plano Safra”, plano criado para auxiliar o setor agropecuário, através de financiamentos com condições diferenciadas para pequenos e médios produtores, e afirmou que o programa vai beneficiar a agricultura familiar e o agronegócio.

“Não há incompatibilidade entre o pequeno e médio produtor, e o grande produtor [...] porque na verdade, o Brasil precisa dos dois. Os dois são complementares, os dois ajudam o Brasil.
[...] Eles vão perceber que da parte do governo não há nenhuma objeção a eles. O que nós queremos é que todos produzam, cresçam e que o Brasil cresça junto.”

O Presidente se pronunciou brevemente sobre a relação estreita entre seu governo e o setor do agronegócio, que demonstrou forte apoio ao governo Bolsonaro nos últimos anos:

 "Eles sabem que do ponto de vista econômico, eles não tem problema conosco. O problema pode ser ideológico. Se é ideológico, paciência."

Reforma Agrária

O presidente Lula destacou que pretende trabalhar com o Incra (Instituto Nacional Colonização Reforma Agrária) para identificar as terras improdutivas e discutir a ocupação dessas terras.

"Nós vamos fortalecer a pequena e média propriedade, nós vamos fortalecer o agronegócio e nós vamos fazer reforma agrária.
[...] Não precisa ter barulho, não precisa ter guerra. O que precisa ter é competência e capacidade de articulação."

Lula quer discutir o assunto com a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) e o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra), para realizar assentamentos “com muita tranquilidade”.

Repercussões na mídia

Divulgada "às pressas", a live do Presidente Lula teve baixa visualização: cerca de 10 mil pessoas acompanharam a transmissão do programa ao vivo. Um dos motivos para o baixo engajamento se deve ao horário de exibição do quadro, às 8h30 de uma terça-feira. O horário foi considerado inadequado pois tratando-se de um dia útil, grande parte do público-alvo estaria em serviço ou se locomovendo para o seu local de trabalho.

Outro ponto a ser observado, é a grande exposição do Presidente. Apesar de Lula declarar que 'gosta de falar', o formato do quadro ainda está sendo avaliado pois a ideia de uma conversa descontraída com o presidente, porém feita de forma 'mais profissional', apresenta certa contradição: além de traçar uma linha tênue entre informação e campanha eleitoral, a live acabou passando a percepção de uma entrevista comum e planejada, onde o apresentador e o entrevistado estabelecem perguntas e respostas com temas já previstos, sem abordar assuntos polêmicos ou com maior evidência nas mídias.

Assista na íntegra a primeira transmissão ao vivo do Presidente Lula em seu canal no Youtube, nesta terça-feira (13/06):

O quadro 'Conversa com o Presidente' teve sua primeira edição e será exibido regularmente nas redes oficiais do Presidente Lula.

Fontes:

Gráfico comparativo entre a taxa de juros nos governos - Reportagem Poder 360: Lula erra ao dizer que deu juro de 2% para agro comprar máquinas (poder360.com.br)

Layane Monteiro
Analista Política e Criadora de Conteúdo Nomos
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